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A tal da vida dá uma trabalheira danada

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E se todo esse vazio existencial que se vê nos consultórios, nos desabafos das redes sociais e nos transtornos mentais, que agora explodem entre adolescentes, esteja muito mais relacionado a todas essas facilidades que nos roubam a oportunidade de viver uma vida que importa? Que se importa.

Algo que eu tenho notado nessa vida rock’ n roll chamada OBRA é que existe essa coisa muito presente na vida das pessoas, de optar por paranauês que “não vão dar trabalho.”

É a grama artificial que não precisa de manutenção, o piso que não envelhece, a cortina que não cria rugas, a mesa que não marca.

Outro dia, uma moça muito simpática com quem cruzei em uma loja tentava me convencer a não levar uma mesa de madeira – e sim uma outra que “não mancha, não dá trabalho e daqui a 50 anos tá igualzinha!”

Ah, pois eu prefiro a mesa marcada de vida. Os arranhões e as manchas são subprodutos de uma vida viva, que esquenta, esfria, endurece, emociona. 

A casa conta histórias e, assim como nós, ela envelhece e acumula rugas que sinalizam o tempo – com suas alegrias e dores.


A nossa casa veio com a tal da grama sintética, e trocá-la por uma natural foi uma das primeiras providências. O rapaz me contou que a grama sintética anda fazendo muito sucesso, principalmente nas escolas. 

A manutenção da vida (casa, relacionamentos, filhos) é trabalhosa pacas. No entanto, se a gente acreditar na teoria de que não existe propósito sem a parte difícil – porque eles andam juntos – a gente passa a entender que o cuidado, a trabalheira, a manutenção da vida talvez sejam o preço que se pague por uma vida com sentido. 

Quando a gente quer viver uma maternidade que não dá trabalho, em uma casa que não suja nem envelhece e relacionamentos que não precisam de manutenção, talvez a gente esteja abrindo mão, também, do sentido. 

Ja pensou? Se todo esse vazio existencial que se vê nos consultórios, nos desabafos das redes sociais e nos transtornos mentais, que agora explodem entre adolescentes, esteja muito mais relacionado a todas essas facilidades que nos roubam a oportunidade de viver uma vida que importa? Que se importa.

E se, na tentativa de facilitar e plastificar a vida, a gente estiver dificultando e desnutrindo a nossa  essência enquanto espécie que, desde os primórdios, é cuidar um do outro, acumular marcas, contar histórias. 

(Enfim, confabulações de uma obra. Percebam que aqui a gente vai da grama pra questões  existenciais em um minuto, correto?)

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